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(…) Não há outra adesão senão a escolha, outro amor senão a preferência. Se a gente, para comprometer-se, esperar encontrar a perfeição absoluta, nunca amará ninguém e jamais fará coisa alguma.

Os Mandarins – Simone de Beauvoir

Cipreste triste

Laura Welman insistiu:
– Minha filha… Está mesmo infeliz? O que houve?
– Nada… Absolutamente nada – levantou-se e foi até a janela. Deu meia-volta e falou: – Tia Laura, me diga, com toda a honestidade, acha que o amor chega a ser uma experiência feliz?
A expressão da sra. Welman ficou sombria.
– No sentido que está sugerindo, Elinor, não; é mais provável que não… Gostar apaixonadamente de outra criatura humana sempre causa mais tristeza do que alegria, mas da mesma forma, Elinor, não existiríamos sem essa experiência. Alguém que nunca amou de verdade nunca viveu de verdade…

Cipreste tristeAgatha Christie

Primeiro, os nazistas vieram buscar os comunistas, mas, como eu não era comunista, eu me calei. Depois, vieram buscar os judeus, mas, como eu não era judeu, eu não protestei. Então, vieram buscar os sindicalistas, mas, como eu não era sindicalista, eu me calei. Então, eles vieram buscar os católicos e, como eu era protestante, eu me calei. Então, quando vieram me buscar… Já não restava ninguém para protestar.

Martir Niemöeller

Sonhos na infância

Na infância, os sonhos são como o cardápio de um restaurante: você escolhe o que quer, e o futuro lhe traz isso numa bandeja de prata. Depois, esses tempos ficam para trás, e a vida toma rumos imprevistos. O garçom vai até a mesa e lhe diz que a cozinha está fechada.

A bibliotecária de Auschwitz  Antonio G. Iturbe.

Livros

Esses artefatos, tão perigosos que portá-los é motivo de pena máxima, não disparam nem são objetos pungentes, cortantes ou contundentes. O que tanto temem os implacáveis guardas do Reich são apenas livros: livros velhos, desencadernados desfolhados e quase desfeitos. Mas que são perseguidos, condenados e vetados de maneira obsessiva pelos nazistas. Ao longo da história, todos os ditadores, tiranos e repressores, fossem arianos, negros, orientais, árabes, eslavos ou qualquer outro tom de pele, defenderam a revolução popular, os privilégios das classes nobres, os mandamentos de Deus ou a disciplina sumária dos militares. Qualquer que fosse sua ideologia, todos tiveram algo em comum: sempre perseguiram os livros com verdadeira sanha. Salão muito perigosos, fazem pensar.

A bibliotecária de Auschwitz  Antonio G. Iturbe

Literatura

O que a literatura faz é o mesmo que acender um fósforo no campo no meio da noite. Um fósforo não ilumina quase nada, mas nos permite ver quanta escuridão existe ao redor.

William Faulkner

Perdido e salvo

 Sabe por que se apaixonar é o que pode acontecer de mais profundo com uma pessoa? Porque quando estamos apaixonados, estamos totalmente em perigo e completamente salvos, os dois ao mesmo tempo.

Cartas de amor aos mortos  Ava Dellaira

— Harry, de todos os seus ensinamentos, se tivesse que escolher apenas um, qual seria?

— Devolvo a pergunta.

— Para mim, seria a importância de saber cair.

— Concordo plenamente. A vida é uma longa queda, Marcus. O mais importante é saber cair.

A verdade sobre o caso Harry Quebert — Joël Dicker

— Não confie na frase de sua avó, de sua mãe, de sua irmã de que um dia encontrará um homem que você merece.

Não existe justiça no amor.

O amor não é censo, não é matemática, não é senso de medida, não é socialismo.

É o mais completo desequilíbrio. Ama-se logo quem a gente odiava, quem a gente provocava, quem a gente debochava. Exatamente o nosso avesso, o nosso contrário, a nossa negação.

O amor não é democrático, não é optar e gostar, não é promoção, não é prêmio de bom comportamento.

O melhor para você é o pior. Aquele que você escolhe infelizmente não tem química, não dura nem uma hora. O pior para você é o melhor. Aquele de quem você procura distância é que se aproxima e não larga sua boca.

Amor é engolir de volta os conselhos dados às amigas.

É viver em crise: ou por não merecer a companhia ou por não se merecer.

Amor é ironia. Largará tudo — profissão, cidade, família — e não será suficiente. Aceitará tudo — filhos problemáticos, horários quebrados, ex histérica — e não será suficiente.

Não se apaixonará pela pessoa ideal, mas por aquela que não conseguirá se separar. A convivência é apenas o fracasso da despedida. O beijo é apenas a incompetência do aceno.

Amar talvez seja surdez, um dos dois não foi embora, só isso; ele não ouviu o fora e ficou parado, besta, ouvindo seus olhos.

Amor é contravenção. Buscará um terrorista somente para você. Pedirá exclusividade, vida secreta, pacto de sangue, esconderijo no quarto. Apagará o mundo dele, terá inveja de suas velhas amizades, de suas novas amizades, cerceará o sujeito com perguntas, ameaçará o sujeito com gentilezas, reclamará por mais espaço quando ele já loteou o invisível.

Ninguém que ama percebe que exige demais; afirmará que ainda é pouco, afirmará que a cobrança é necessária. Deseja-se desculpa a qualquer momento, perdão a qualquer ruído.

Amar não tem igualdade, é populismo, é assistencialismo, é querer ser beneficiado acima de todos, é ser corrompido pela predileção, corroído pelo favoritismo. É não fazer outra coisa senão esperar algum mimo, algum abraço, algum sentido.

Amor não tem saída: reclama-se da rotina ou quando ele está diferente. É censura (Por que você falou aquilo?), é ditadura (Você não devia ter feito aquilo!). É discutir a noite inteira para corrigir uma palavra áspera, discutir metade da manhã até estacionar o silêncio.

Amor é uma injustiça, minha filha. Uma monstruosidade.

Você mentirá várias vezes que nunca amará ele de novo e sempre amará, absolutamente porque não tem nenhum controle sobre o amor

— Vocês, Hempstock, não são gente — falei.

— Somo, sim.

Fiz que não com a cabeça.

— Aposto que essa não é sua aparência de verdade — falei. — Não exatamente.

Lettie deu de ombros.

— Ninguém realmente se parece por fora com o que é de fato por dentro. Nem você. Nem eu. As pessoas são muito mais complicadas que isso. É assim com todo mundo.

— Você é um monstro? Como a Ursula Monkton?

Lettie jogou uma pedra no lago.

— A meu ver, não — respondeu. — Existem monstros de todos os formatos e tamanhos. Alguns deles são coisas de que as pessoas têm medo. Alguns são coisas que se parece com outras das quais as pessoas costumavam ter medo muito tempo atrás. Algumas vezes os monstros são coisas das quais as pessoas deveriam ter medo, mas não têm.

— As pessoas deveriam ter medo de Ursula Monkton — falei.

— Talvez sim, talvez não. Do que você acha que a Ursula Monkton tem medo?— Sei lá. Por que você pensa que ela tem medo de alguma coisa? Ela é adulta, não é? Os adultos e os monstros não têm medo de nada.

— Ah, os monstros têm medo — disse Lettie. — É por isso que são monstros. E os adultos… — Ela parou de falar, coçou o nariz sardento com um dedo. — Vou dizer uma coisa importante para você. Os adultos também não se parecem com adultos por dentro. Por fora, são grandes e desatenciosos e sempre sabem o que estão fazendo. Por dentro, eles se parecem com o que sempre foram. Com o que eram quando tinham a sua idade. A verdade é que não existem adultos. Nenhum, no mundo inteirinho. — Ela pensou por um instante. Então sorriu. — Tirando a vovó, claro.

O Oceano no Fim do Caminho — Neil Gaiman